quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval e seus contrastes!


O carnaval surge no mundo como uma celebração dos gregos ao deus da fertilidade do solo e agradeciam pela produção anual. Com o passar do tempo os gregos e romanos inseriram bebidas e atos sexuais nas festas, tornando-as festas pagãs.
O carnaval no Brasil, e não diferente, na Bahia, surge como uma festa de força popular. As festas aconteciam nas ruas, com pessoas mascaradas, fantasiadas e com o intuito de se divertirem. O carnaval era verdadeiramente uma festa popular, uma manifestação popular crua, muito diferente do que acontece hoje. Mas o que diferencia o carnaval atual das suas raízes?

Bom, falarei a respeito do carnaval da Bahia, pois estou situado em um contexto que me permite tratar do assunto com mais propriedade. Após a percepção do empresariado de que o carnaval poderia render-lhes grandes lucros, o carnaval passou a ser uma festa mascarada. Não, não estou dizendo que as pessoas usavam máscaras para sair às ruas, mas sim que existia a imagem de uma festa popular, mas com direitos diferentes para ricos e pobres. Como assim?
Através da elitização das festas. Não quero dizer que a elite não deveria participar das festas, mas sim que os melhores lugares e os privilégios da festa – assim como em outras áreas da sociedade – ficaram em poder de poucos. Os trios elétricos, que surgiram geniosamente das mãos de baianos, foram a partir de certo momento, cercados por cordas para que os mais ricos possam usufruir de um espaço privilegiado. A partir dessa segregação, os pobres passam a se espremer enquanto os ricos pulam tranquilamente em sua área separada. Isso é uma festa do povo? Não mais...
Apesar de inúmeras pessoas participarem do carnaval de Salvador na famosa “pipoca” (área que não é cercada pelas cordas do bloco), existe um privilégio para aqueles que podem pagar, apesar da festa ocorrer em um espaço público, onde todos deveriam ter direitos iguais.

Enquanto caminhava em direção ao circuito Barra-Ondina para ver de perto as bandas passarem nos trios, na pipoca, puder ver dezenas de famílias acampadas nas calçadas em condições subumanas para poderem vender cerveja, refrigerante, água mineral, ou o que quer que fosse. É realmente triste ver uma festa que movimenta tanto dinheiro e tantos turistas com a imagem de “festa popular” e ver que a maior parte da população usufrui da festa de uma maneira triste, sem segurança, sem condições de se divertirem em paz, sem igualdade.
Pergunto-me até que ponto isso acontecerá. Sou a favor da idéia proposta por Durval Lélis (Asa de Águia), onde aconteceriam 2 carnavais: um deles seria indoor, ou seja, aconteceria em local fechado e aqueles que estiverem dispostos a pagar, que pagassem e curtissem sua festa; e no outro a rua ficaria realmente para a população, a festa nas ruas seria popular de fato. O grande problema seria fazer com que as grandes bandas fizessem shows nas ruas, afinal a iniciativa privada teria mais condições de bancar os cachês caríssimos das mesmas.

E enquanto isso acontece, outro grande problema acontece: a perda das raízes culturais, pois as festas tendem a concentrar um ou dois estilos musicais que estão nas rádios, enquanto outros, como o afoxé e os blocos afros, que foram os pilares da música baiana, são deixados de lado.
Infelizmente essa é a lógica do capitalismo agindo em mais uma área econômica. Enquanto houver essa lógica predominante, de se fazer dinheiro acima de qualquer custo, textos como esse serão sempre escritos, mas a realidade será sempre a mesma: quem pode pagar tudo pode, quem não pode, se fo**.
Segue um vídeo de Lulu Santos, que eu ouvia enquanto escrevia esse texto.

Obrigado pela leitura e volte sempre. =)